18.5.13

«Júlio César Machado no Oeste»

Deve ter sido um honestíssimo vadio, homem de grande afeição pela mesa bem regada, jornalista brilhante, Júlio César Machado, palmilhou terras do Oeste e sobre elas escreveu. O que escreveu - ou pelo menos parte do que escreveu - reúne-se num volume publicado pelo Museu Municipal do Bombarral, há quase duas décadas. O livro «Júlio César Machado no Oeste» abre com um brilhante relato de uma ida às Festas do Sítio, em 1860. O dandy havia partido de Lisboa «às seis horas da manhã...pelos caminhos de ferro...Santa Apolónia...», apanhado uma carruagem no Carregado, tendo chegado «...às cinco horas da tarde, a diligência parava nas Caldas da Rainha...» e dali, pediu que um cavalo o levasse à Nazaré. O texto continua cinco horas depois de ter chegado à praia, conversado com pescadores à procura «da Nazaré», mas que só teria encontrado «a praia e o Sítio». Ao longo deste livro encontramos outros textos publicados pelo autor em jornais e folhetins, sobre as Festas, sobre a pesca, o teatro, a passagem dos círios, as sardinhas. E há referências aos lugares de Barquinha, Amoreiras, serranias de Pederneira, como sendo lugares junto de Nazaré.


1881
A Senhora da Nazaré

(...) À noite, teatro.
O teatro da Nazaré é do tamanho dos teatros de segunda ordem de qualquer cidade, e tem proporções de teatro real, duas ordens de camarotes, plateia extensíssima, e galeria para o povo. Nas noites da festa enche-se a sala a deitar fora.
É de uso na Nazaré ter cada pessoa um varapau a que se encoste.
O sujeito não desampara nunca o varapau.
Na igreja encosta-o à parede.
Nas salas, coloca-o atrás da porta com o boné em cima, para depois o diferenciar.
No teatro, guarda-o na mão.
De modo que em subindo o pano, os actores vêem mais os varapaus do que os espectadores, e dir-se-ia que estão representando um canavial !
O público da Nazaré é o mais exigente e ruidoso de que há notícia, e está a gritar incessantemente, a rir, e a bater com os varapaus. Não se calcula o que isso é ! (...)

Júlio César Machado no Oeste
org. Vitor Wladimiro Ferreira
ed. Museu Municipal do Bombarral, 1996