4.4.16

Uma mulher de sete saias à porta da cadeia

a revista do expresso
Corria o ano de 1959. António Borges Coelho estava preso em Peniche. Preso político às mãos da PIDE. Hoje é professor catedrático jubilado. Tem 87 anos. Em entrevista ao Expresso, recorda os seis anos em que esteve preso, mas fala sobretudo da História de Portugal, que está a escrever, das leituras que faz, da política, da liberdade. Uma entrevista para ler com atenção e em que o professor recorda quando foi libertado «Ao sair, à porta do Forte de Peniche, uma mulher das sete saias veio ter comigo e disse-me: "Estás a sair de Peniche". Viu que me tremiam as pernas e deu-me um abraço.»
António Borges Coelho escreveu um poema nos dias de prisão em Peniche. Dali via-se a Nazaré.


FORTALEZA

Ao comprido na cama de ferro
as paredes de costas voltadas
em brancura neutra
ouço o coração a dar pancadas.

Pareço um morto
morto vigiado por um buraco
e que mesmo deitado no jazigo
pode sumir-se pelo chão opaco.

- António não percas a fé.
Em dias claros vê-se a Nazaré. -

no mar oceano
António Borges Coelho
Editorial Caminho, Lisboa, 1981

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